Tradicional x eletrônico: Qual brinquedo é melhor? O que dizem os especialistas?





Entregue um smartphone na mão de uma criança e em poucos minutos ela terá descoberto a galeria de fotos e grande parte dos aplicativos disponíveis. O mesmo vale para brinquedos eletrônicos em geral: diante de um laptop infantil, por exemplo, os pequenos não precisam de manual de instruções - simplesmente apertam os botões e encontram suas atividades. A presença da tecnologia na vida das crianças é cada vez mais natural. Isso se deve, principalmente, à realidade dos adultos que as rodeiam.


"Desde bebês, as crianças percebem três símbolos do poder adulto: a chave, o telefone e o controle remoto. São eles que desencadeiam a vontade de controlar as situações - como abrir portas ou escolher o canal da TV. Naturalmente surge o interesse pelos computadores também. Os conceitos por trás desses objetos e de seus usos, ou seja, a valorização do poder decidir, da velocidade e da multitarefa, que são fatores importantes hoje em dia, são adaptados ao universo infantil para o surgimento dos brinquedos eletrônicos que conhecemos. Assim, os brinquedos eletrônicos se tornaram os objetos de valor do nosso tempo", explica a pedagoga Tânia Fortuna, coordenadora geral do programa de extensão universitária Quem quer brincar? , da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É a partir desta linha de pensamento que muitas novidades do mercado são criadas. Kathleen Alfano, especialista em primeira infância da Mattel e diretora do Playlab de Fisher-Price, revela que a popularização dos tablets forçou a empresa a ser criativa. “Sempre nos baseamos em produtos do mundo adulto e os transformamos em brinquedos. Conseguimos fazer um tablet seguro e adequado, por exemplo, com bons aplicativos para o desenvolvimento das crianças.”

Sem comparações
Mesmo com a tecnologia tão presente no dia a dia das famílias, muitas pessoas ainda se mostram saudosas das brincadeiras mais antigas. Entretanto, frases taxativas como “brinquedos bons eram os do meu tempo” estão sendo cada vez mais questionadas. Segundo especialistas, há espaço tanto para os brinquedos eletrônicos quanto para os tradicionais e não é possível uma comparação direta entre eles.
“Nesse caso, não existe melhor ou pior. Tudo depende da criança e da maneira como ela interage com o objeto lúdico. O ideal é aquele que entretenha e crie situações que propiciem o deslocamento espaço-temporal por meio da imaginação, o que independe do formato do brinquedo”, defende a doutora em educação Maria do Carmo Kobayashi, professora da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Bauru. Tânia concorda e acrescenta: “o brinquedo que vem todo pronto ou faz tudo sozinho não é bom, e pode ser tanto uma cama de boneca com as partes coladas quanto um robô que só precisa ser ligado.”



Apetrechos modernos e ursinhos
 
Na casa de Ana Paula Santamaria Zeizer, as bonecas e os bichinhos de pelúcia de Pietra, de 4 anos, dividem espaço com apetrechos modernos. A publicitária paulistana conta que a filha gosta de todo tipo de brinquedo e que cada um tem seu momento de atenção. “Ela é vidrada em ursinhos, damos nomes para eles, inventamos diálogos. Mas também quer brincar com o laptop ou com meu tablet à noite. Um não anula o outro”, diz. Para a mãe, é natural que a pequena tenha interesses múltiplos. “Ela vê meu marido no computador, me vê com o smartphone, como não vai querer também? Não vejo problemas porque existem aplicativos educativos. Apenas faço questão de que sempre um de nós esteja presente para orientar”, afirma.
Essa interação dos pais é, para as pedagogas, essencial. “O papel do adulto é conversar com as crianças sobre o uso de todos os tipos de brinquedos. Cabe a ele se certificar que o brinquedo está sendo usado corretamente. Além disso, também deve determinar o tempo de cada atividade”, esclarece Tânia. “O responsável deve filtrar o que a criança pode acessar, especialmente em casos de jogos com conteúdos não eticamente viáveis para o cérebro infantil”, complementa Maria do Carmo.
 
Nem sempre os pais acertam como dosar os brinquedos logo de cara. Por causa da profissão, a analista de sistemas Aline de Assis pensava que deveria deixar Breno, de 9 anos, usar computador e videogame livremente. “Até que um dia, dois anos atrás, cheguei em casa e vi meu filho jogando um game de guerra e falando palavrões diante da televisão. Fiquei em choque. Expliquei que violência é uma coisa ruim e que ficava magoada por ouvi-lo usando aquela linguagem. Ele me contou que havia trocado outro brinquedo pelo game, com um colega da escola”, lembra. A curitibana se sentiu péssima, mas superou o trauma e desde então monitora as brincadeiras do menino. “É minha obrigação como mãe. Os brinquedos entretêm, mas quem educa sou eu”, finaliza.

Fonte: http://delas.ig.com.br/




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